terça-feira, novembro 07, 2006

Saddam vai à forca


Quem raio é que pode rejubilar, hoje em dia e hoje em século, com uma pena de morte aplicada a um ex-ditador por um tribunal tão ridículo? O Saddam-aso, já se sabe, é e era uma bestinha. Mas vejam estas perolazinhas (negras, muito negras...) do editorial do José Manuel Fernandes, um gajo importante, afinal (ainda) é o director do Público, o jornal oficial da nossa mesa no Piolho. O título já diz quase tudo: "Apesar de tudo...":
"O simples facto do (sic - "de o", alguém ensine o director do jornal a escrever) ditador ter tido direito a um julgamento no seu país (sempre melhor do que num tribunal internacional) e que foi amplamente publicitado é em si mesmo uma evolução muito positiva por comparação com o seu regime (beneficiou de direitos que negou aos milhares de cuja morte é responsável)". Nem apetece comentar, mas só uma perguntinha ou duas: os tribunais internacionais estão tão mal frequentados que são sempre piores que aquela rasquice que estivemos sempre a ver na TV, com aquele jogo do expulsa e do insulta? O Fernandes, com este discurso, parece um daqueles familiares de vítimas que só querem justiça. "Apanhou 20 anos? Devia era ser empalado num ferro em brasa!". Ó Fernandes, tendes ADN babilónico?
Pérola (negríssima): "Mais: decorreu em melhores condições do que decorrem os julgamentos na maioria dos países daquela região do Mundo". Alguém falou em jaulas?... E, ó Fernandes, não queiras dar uma simpaticazinha imagem de universalista cheio de respeito e reverência pela condição humana e pelas maravilhas de que ela é capaz. A gente boa escreve "mundo" com minúsculas. Os paranóicos e megalómanos é que maiusculam. Quando chegam onde querem, musculam.
E os Ministros do Turismo "daquela região do mundo" não gostaram nada. Mesmo não tendo lido.
Pérola: "E mesmo tendo uma carga política, esta não foi maior nem menor do que a dos julgamentos de Nuremberga ou, mais recentemente, de Milosevic". Já reconhecendo que há uma carga política (que já ninguém se dá ao trabalho de apontar, mas o Fernandes lá terá um esqueleto qualquer no armário que o obriga a desobrigar-se), como qualquer académico que se preze, recorre aos clássicos. Nuremberga é um clássico. Mas esta prosa é um nojo e Nuremberga não se trata assim.
Pérola: "Houve muitas fragilidades no processo (três advogados de defesa foram assassinados e o juiz-presidente é o terceiro encarregue do julgamento, isto depois de um dos seus antecessores ter dito a Saddam-aso que ele não era um ditador...)". Eu pensei que fragilidades no processo eram, sei lá, dificuldade na produção de prova, testemunhos frágeis, litigância de má-fé, reserva mental vulgo mentira, mas não. É o assassinato em série. Fragiliza bastante, nisso dou-lhe razão.
Tais fragilidades são grandes, e é digna de registo a intuição de que "em Portugal, onde aos réus são dadas todas as garantias de defesa, o julgamento seria porventura anulado (para além de que ainda duraria)". Aqui, e para poupar tempo e espaço, o que o Fernandes quer dizer é que, dado o princípio da não retroactividade da nossa lei, especialmente a penal, o Sadda-maso ia direitinho para casa conviver com Satã da maneira que vimos no South Park. E nem sequer temos prisão perpétua para afastar esta gente das nossas crianças, idosos e demais demónios. "Não existe no nosso Código Penal"...
"Por fim, todos os que criticam a pena de morte (por enforcamento ou por qualquer outro método, é indiferente) não podem ficar satisfeitos quando assistem a uma e é sua obrigação reafirmarem a sua posição de princípio. Convém contudo perceber que aplicar ou não a pena capital será um dos menores problemas do Iraque e que boa parte dos países da União Europeia a mantiveram para situações de guerra até à década de 1990, sendo que a Grécia só a aboliu para todos os crimes em 2004". Deixa a UE fora disto, Fernandes!
"Pacificar o Iraque (...) deve preocupar-nos muito mais do que a pena de morte, abolida em 2003, ter sido reintroduzida em 2004 por decisão maioritária da Assembleia maioritariamente eleita". Quem fala assim só pode estar desesperado ou com garantia de que o seu lugar é vitalício.
Homenzinho de merda.

4 comentários:

Anónimo disse...

O homem safou-se de o caso com uma sentenca de caca. Ja nao ha justica em o Mundo.
Se a GNR o apanha-se sem sinto de seguranca e' que lhe dizia!
Isto no tempo do Saddam nao era assim!

durtal disse...

Ah, ah, ah nónimo. Para que conste: borrifo-me para o Sadã, só não acho piada nenhuma à pena de morte. Escreves mesmo assim ou estás a brincar?

Anónimo disse...

O meu cliente apela a cautela com certas acusacoes.

--- O advogado do diabo.

Anónimo disse...

;-)