terça-feira, janeiro 30, 2007

A culpa não é do Google News


Faculdade de Ciências da Universidade do Porto digitaliza cerca de 12 mil livros e publicações periódicas datadas de entre 1500 e 1945. Quatro notícias disponíveis na web 2.0.
Derlei volta a jogar entre nós (desta vez, não estou a meter-me com o Benfica. Só estou a meter-me com Portugal). 81 notícias.
Se calhar, a culpa é mesmo do Google News, que não sabe procurar. Afinal, o Google nunca soube procurar nada.
Já agora, e para não encher mais uma posta com irrelevâncias, aproveito este espacinho para felicitar este país que vai escolher, na final, um de dois grandes portugueses: Salazar e Cunhal. Clap, clap. Um clap para cada.

CDS-PP recebe dirigentes do Benfica. Sad.


Record: "O Benfica, representado por Luís Filipe Vieira, Andrade Sousa (departamento jurídico) e João Paulo Almeida (departamento médico), foi hoje recebido pelo presidente do CDS-PP (...) na sequência do pedido de audiência aos partidos com assento parlamentar, a fim de manifestar as suas preocupações no que concerne ao dossier "Apito Dourado", bem como para alertar para a forma como são tratados os casos de doping em Portugal, tomando como referência o caso de Nuno Assis".
São uns pândegos.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

A mão que embala o berço e a mão que reza o terço



Caridosas imagens estas, retiradas de piedosos sites de gente religiosa cheia de ardor de salvação e amor pelo próximo. Dedos que teclam por Deus, bocas e cabecinhas de horror. Cabecinhas capazes de manipular bonecos de fetos em sangue, desmembrados, com luvas imaculadas. E bonecos de fetos enegrecidos (abortados por incineração intra-uterina? por injecção de crude via amniocentese?), ao lado uma mão de dono pesaroso, e uma rosa. O senhor da mão, espero, colheu e pegou a rosa sempre pelo espinho até perder-se na carne, para partilhar um milionésimo da dor do boneco que alguém assassinou.
Ou não são bonecos? Bem, assim... é crime. Não há técnicas de aborto assistidas por equipas de saúde que provoquem estes efeitos, logo temos aborto clandestino com fotógrafo oportunista e manipulação à Joel-Peter Witkin. E, então, esta gente piedosa une-se aos malfeitores abortadores para conseguir boas fotografias-choque. Ai ai, é crime, são crimes. Aborto (assassínio). Profanação de cadáver.


quinta-feira, janeiro 25, 2007

The weaker movie

Primeiro, fizeram o remake do "The Haunting", do Robert Wise, provavelmente o melhor filme de terror de sempre sem uma gota de sangue. Depois, fizeram do "Shining" uma série de TV indescritível. Depois, refizeram "The Omen" e, por acaso e por uma vez, até saiu uma coisa digna. Sequelas e prequela de "O Exorcista". Remake do "Massacre no Texas". Remake de "O Nevoeiro". Agora, atiram-nos com o remake do maravilhoso "The Wicker Man". Vou já acabar com a graça e contar o fim: o Nicholas Cage morre carbonizado, condenado à morte pela comunidade pagã que encontrou e não conseguiu vergar. Prontos. Isto, se desta vez não arranjaram um happy hollywood ending. E cá estarei para revelar o final dos estúpidos remakes que ainda faltam, p. ex., "A Semente do Diabo".

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Baby meets baby

Vi a coisa acontecer duas vezes à minha frente, hoje: aquele momento engraçadíssimo em que uma criança corre desenfreadinha, sozinha e sem precisar de ninguém para a brincadeira, pensava ela, e vê outra criaturinha com dois anos a menos ou a mais, e pára. Há ali um radar, o outro pimpolho até estava a dormir, ou a sonhar, que são coisas diferentes, e abre os olhos. Até aí ainda não tinham conversado, e sabemos que ainda não sabem como se conversa, mas concordam: vamos brincar.
Os pais olham para aquilo com olhos pequeninos, feios, sonâmbulos, dão ordens, deixá-lo estar,
que é muito pequenino, daqui a uns tempos já não deixo que brinque e se misture, já há-de saber comportar-se.
Era merecido um bem-humorado feitiço que virasse do avesso os adultos na rua. Corriam ou caminhavam felizes por aí até descobrirem outro adulto com mais ou menos a mesma idade, sorriam quando o encontravam, babavam-se, convidavam-no para correr e derrapar nas mesmas rampas tipo ribanceiras, e diriam uma infinidade de baboseiras que as crianças, perdidas de riso, não censuravam, por lhes acharem graça e importância.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

A bota e a perdigota, ou de como a Fiama as faria rimar muito melhor

Songs about us


Sister Sledge - "We are family"
Kraftwerk - "We are the robots"
Alec Empire - "We all die!"
Psychic TV - "We kiss"
Anja Garbarek - "It seems we talk"
Belle and Sebastian - "We are the sleepyheads"
Louis Armstrong - "We have all the time in the world"
The Magnetic Fields - "Let's pretend we're bunny rabbits"
Scott Walker - "We came through"
XTC - "We're all light"
Sufjan Stevens - "We won't need legs to stand"
The Cure - "If only tonight we could sleep"
Ordo Equilibrio - "We are Seraphim"

sábado, janeiro 20, 2007

Era previsível



Mas os meninos do "não" estão muito mal comportados. Irritantezinhos, a precisar de uns carinhosos tabefes nas faces angelicais de ultra-tementes a Deus Nosso Senhor. Movimentos oficiais, legalizados, são às dezenas. Para emitir ruído. E emitem muito, deviam ser multados. "Minho pela vida", "Guarda pela vida", "Alentejo pela vida", "Algarve pela vida", "Norte pela vida" (este é mais abrangente)... Os do outro lado da barricada são gente da morte, morrida, matada, sofrida, a matança dos inocentes. O PSD não tem posição oficial, ou seja, há liberdade de voto, mas estão desconfortáveis. Alinham com o CDS quando o Portas faz uma reaparição bombástica encasacado de couro, sardento, moreno do sol de Inverno, dentição invejável, indignado com as declarações de uma magistrada do Ministério Público, a Maria José Morgado, numa conferência em que se manifestou pelo "sim". O Portas, maquiavélico deputadozito sempre calado com sorriso trocista à espera que outros se queimem na preparação da re-entronização, tem um amor desmedido pelo princípio da separação de poderes e pelo estatuto dos magistrados. Já não o tem no que respeita à separação entre Igreja e Estado, uma vez que anda a encorajar as misérias que vão sendo ditas nas homilias que se repetem várias vezes ao dia por esse país fora. "Assassínio", "matança dos inocentes no ventre da mãe", "o que nos espera no ano em que se cumpre o 90º aniversário das Aparições", "impostos desviados para financiar clínicas de estrangeiros" e demais agit-prop. Brutal, manipulador, mentiroso, asqueroso, pequenino, para aqueles que eles acham pequeninos, os que os sustentam. A única maneira de reagir a esta merda é com um respeitoso silêncio, um conciliador sorriso, um paternalista encolher de ombros e um maciço voto. Com a certeza de que, no dia seguinte, não vai haver corrida ao aborto, histeria nenhuma. Tudo estará na mesma, apenas um pouco mais justo, mais humano, mais simpático, melhor. Algo que os nossos párocos, bispos, cardeais e Portas&Melos&Almeidas e Papas seguramente não desejam. O rebanho empobrece com nados-mortos e assassinos em cada apartamento de cada rua das nossas cidades, valham-lhes as aldeias e o poder grande/pequeno sobre os fiéis embevecidos e cumpridores e rodeados de abortadoras e abortadeiras por todos os lados, é só fazer soltar as línguas. Ao fim da tarde, as casas enchem-se de gente e de histórias. Mas faça-se silêncio, que a vergonha dos vizinhos é uma coisa muito séria e é isso que interessa evitar, porque Deus é piedoso e não anda por aí com altifalantes. Ele é porreiro, o inferno são os outros. Os que julgam. E queremos acabar com isso, com esses.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Song for an Afternoon of Extreme Programming



CandleGoat - Sunn O)))

Songs About Them




  • Galaxie 500 - Them
  • Themselves - It's Them
  • Santana - Them Changes
  • Delroy Williams - Do Them
  • Gob - Fuck Them
  • Krome - Clown Them
  • Bitter Springs - A Euro for Them
  • Yo Gotti - I Got Them
  • Pink Floyd - Us And Them
  • The Je ne Sais Quoi - Death of Them

Songs about you

Tuxedomoon - "You"
August Born - "You will be warm"
Bonnie 'Prince' Billy - "You will miss me when I burn"
Catherine Wheel - "Eat my dust, you insensitive fuck"
Death From Above 1979 - "You're a woman, I'm a machine"
Nurse With Wound - "I can not feel you as the dogs are laughing and I am blind"
Prince - "All the critics love u in New York"
Momus - "How do you find my sister?"
Silver Jews - "Honk if you're lonely"
The Magnetic Fields - "(Crazy for you but) not that crazy"
Pulp - "Do you remember the first time?"
Sparks - "All you ever think about is sex"
Low - "That's how you sing Amazing Grace"
Love - "You set the scene"
ESG - "Erase you"
Hector Zazou - "I'll strangle you"
This Mortal Coil - "You and your sister"
Roxy Music - "Editions of you"
Ian McCulloch - "I know you well"
Jandek - "I met you"

Três metamorfoses em disco

-Antony And The Johnsons "I am a bird now"
-The Auteurs "Now I'm a cowboy"
-The Who "Who are you?"

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Songs About Me

  • Reverse - I'm In
  • Crash Test Dummies - I'm Outlived By That Thing?
  • Iron Maiden - I'm a Mover
  • Rose Royce - I'm in Love
  • Joe Jackson - I'm the Man
  • Leonard Cohen - I'm Your Man
  • Prism - I'm Only Half a Man
  • Whitney Houston - I'm Every Woman
  • White Stripes - I'm Finding It Harder to Be a Gentleman
  • Muffin Men - I'm the Slime
  • David Hasselhoff - I'm your Lover
  • UFO - I'm a Loser
  • Boney M - I'm Born Again
  • Neil Sedaka - I'm a Song (Sing Me)
  • Pet Shop Boys - I'm With Stupid
  • Chuck Berry - I'm talking to you
  • Bo Diddley - I'm Bad
  • Starwash - I'm not a Dentist
  • AFX - I'm Self Employed
  • Gary Numan - I'm an Agent
  • Bruce Springsteen - I'm on Fire
  • Debbie Harry - I'm on E
  • Chet Atkins - I'm Forever Blowing Bubbles
  • The Smudge Sundaes - I'm a Little Teapot
  • Lemmie Battles - I'm Still Standing
  • The Electric Hippies - I'm Leaving
  • Monoxide Child - I'm Out

Playlist de novo, mas diferente


Top 3 de canções de gente que se achou irremediavelmente perdida para o lado tresloucado:
-"I'm insane", Sonic Youth
-"I'm deranged", David Bowie
-"I am the walrus", The Beatles.
Colaborem, façam mais playlistas!

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Grandes portugueses a 0,60 euros + IVA

Vendem-se ao desbarato numa vandoma perto de si, grandes portugueses usados mas em bom estado de conservação, bem uns mais do que outros pois o taxidermista meteu baixa por volta do século 18.
É escolher, é para a menina, para o menino e para o graúdo energúmeno.
A próxima etapa será produzir em massa "action figures" com diversos apetrechos, tudo em prol no conhecimento da história e da cultura da criancinha.
Teremos o Camões com olhos de todas as cores para tirar e por, O Afonsinho com uma Urraca de trespassar, um Infante com uma bússola que aponta mais ou menos o sul, um Cunhal com crianças de comer, um Joãzinho com tratados que dividem água debaixo do braço para serem usados enquanto se dá banho às crianças, um Marquês com duas pombas na cabeça que cagam quando se lhes dá às asas, um Vasquinho acompanhado de um kamasutra tridimensional ideal para explicar às criancinhas de onde vieram, um Aristides estilo cinzeiro, um Oliveira com cadeiras de três pernas e um tapete com muitos bicos para pôr por baixo e finalmente um Pessoa com quatro cabeças que recita uma mensagem em Esperanto para nos deixar a todos um pouco mais desassossegados não bastasse já esta liga dos campeões.
Será que a betandwin também permite apostas nestes atletas?

1º obituário do ano, não desfazendo em quem se finou até aqui, que isto é uma coisa de gostos, muito pessoal

Só ouvi dois álbuns, maravilhosos: este e "Ptah The El Daoud", ambos de '70. Talvez 2170.

sábado, janeiro 13, 2007

Para finalizar os devaneios visuais de hoje

Ectoplasmas from limbo, a varinha do costume em "red mode".

Já agora, umas bonitezas não do Odd, mas do Odi



























Odilon Redon (1840-1916), três pinturas: Christ with red thorns; Stained-glass window; Veiled woman.
Hoje deu-me para isto, que querem? Tivesse o Cavaco feito um convite pessoal para ir na comitiva devorar toda a comida indiana que pudesse, a melancolia era menor.




Odd, but beautiful



Night bath; Man on a boat; Five women singing. O artista é um Odd Nerdrum, norueguês nascido em 1944. Conheci hoje esta obra, um pouco até boschiana, em que se morre muito, canta-se muito, chora-se muito, viaja-se muito, quase sempre deitado.

Yes! Yes!

Nurse With Wound em Serralves lá para Março. Grande, enorme Steven Stapleton. Nem sequer a foto dele nos sossega (esperem uns 15 segundos).

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Mamã, estou aqui na política, em 16:9!

Esta figurinha está, inadvertidamente, no epicentro de uma pequenita mas reveladora polémica. Pequenita, porque pôs todas as bancadas parlamentares a discutir e chegar a conclusões inéditas sobre as audiências de fim de tarde do 1º canal da RTP. Nomeadamente (isto para adequar à linguagem de fim de tarde da RTP) o imenso poder que tem qualquer tempo de antena que seja transmitido entre o final do concurso apresentado por esta lula gigante e o Telejornal, sereno, isento, profissional, equilibrado e em última análise chato, chato, chato. Ai não sabiam que este pega-monstros inchado é o campeão de audiências?
Acontece que isto, o "Preço Certo em Euros", é mesmo o campeão de audiências da RTP. E também acontece que ninguém imagina, pela força que o hábito tem, outro horário para os tempos de antena de partidos, movimentos, associações que costumam aparecer por ali a alegrar as nossas "oito menos dez", senão as tais "oito menos dez".
Mas também acontece que os nossos senhores têm todo o ar de terem estudado todas as lições que havia para estudar, incluindo os case-studies "Como não entrar de chancas com o Prof. Marcelo e trazê-lo para a RêTêPê" ou "Como não metaforizar incubadoras", e têm sabido ensaiar manobras deixando uma dúvida razoável nos bem intencionados. Mas já não há qualquer dúvida sobre o intuito de mexer-parecendo-que-não, e parece bem que ponham uma trela bem curta no Augusto Santos Silva. Parece razoavelmente óbvio que marcar, por decreto, uma hora diferente e comprovadamente com metade da audiência, para o Tempo de Antena (essa instituição da ida à casa de banho), só aproveita à maioria na Assembleia (essa instituição da ida à cafetaria). Bem, a procissão ainda vai no adro e o santo ainda só tem umas escoriações. Mas começa a comichar por aqui a ideia-fungo de que uma boa parte da energia de quem nos conduz destina-se a criar uma redoma de ficção científica (olá Mariano Gago, apagadote, não?), ensolarada, amena, inútil. Não votei neles (votámos? quantos?) para isto. Isto é uma paixão pelo eleitor microscópico, entediado, ensonado. Amanhã vão pontapear-nos para fora da cama num belo Domingo, e vão dizer que contam e sempre contaram connosco para mudar o que está mal.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Já vimos aqui algo parecido com isto?

Já: posta do AxiomShell a 13 de Novembro de 2.1000.6, outra parede na mesma cidade. Esta imagem, fresquinha de ontem, foi rapinada do momuslivejournal de que já aqui falei, e como não havia sinais exteriores de licenças creative commons ou coisas que o valham, rapine-se.
O Momus apenas publicou a imagem com o comentário "Momus finds himself in tune with the graffitti". Lacónico, mas com uma enorme vontade de ser icónico. E, por estes dias, importa funcionar um pouco à margem da cansativa web 2.0 e tentar questioná-la. O que é a web 1.0? Gente. A web 2.0? Gente com banda larga. Não alinho na frase "myspace is for losers". Mas essa histeria à volta da democratização, da escolha de informação, e conteúdos, e entretenimento, e wikipedismo em vez de enciclopedismo... Na web 2.0, na web do myspace, do youtube, do hi5, da wikipédia, do blogger, do flickr, do google video, do pornotube, dos "amigos" por todo o mundo, da facilidade em blogar de que me estou a servir neste preciso momento, a minha caixa de e-correio classifica como "spam" as convocatórias para bons concertos que um bom amigo me envia pela mailing list; não faço uploads para o youtube, o google video, o pornotube ou outro qualquer, incluindo o sapotube que aí vem: só downloads; não estou no myspace, o meu conjunto musical está, mas não fui eu a pô-lo; estarei fora da revolução? Pessoal, sabem que se pode ganhar dinheiro com blogs? Ó adormirstrador, acorda!
Isto é verdade: a 1ª vez que entrei no myspace, fi-lo porque li algures que o Santana Lopes tinha lá um espaçozito. Afinal de contas, talvez seja "for losers"...
As outras vezes que lá entrei: apenas para ver o que fazem e dizem por lá vários amigos que soam muito melhor à mesa do café, ou do restaurante, ou cá por casa...
O Momus quis ser icónico. Eu digo que o pessoal do myspace quer invadir your space, our space, their space, na maior parte dos casos sem dar grande coisa em troca.