segunda-feira, setembro 01, 2008

Joaquim Castro Caldas. 1956-2008."Só cá vim ver o Sol".





A primeira vez que falámos foi, claro, na cave do Pinguim, já não me lembro qual foi o ano. Situação curiosa, em que eu e outros estávamos no palco (um palco?! no Pinguim?!) e o Joaquim mandou umas bocarras, uns vilipêndios. Foram duas noites loucas, chamou-se "O Porto na Rosa do Mundo". O Joaquim também fazia parte do programa, aliás era uma grande parte do programa. Mas, o que é que se há-de fazer, o Joaquim é assim, toca a disparar metáforas para o palco, olha a hora que já estás a demorar. Respondi-lhe do palco (?) com uma metáfora sobre os jogos de futebol à tarde, em que a equipa que joga contra o sol muda de campo depois do intervalo ou já jogou do lado bom, 'não tarda nada estás aqui outra vez' era o que eu queria dizer e ele compreendeu. E que bons amigos nos fizemos.
Fizemos os 'Apalavrados'. Apresentámo-nos no Maus Hábitos. Éramos muitos. Fez um poema para mim, por mim; não deu trégua enquanto não o li ao microfone. Foi terrível.
(Joaquim, desculpa. Não consigo encontrar esse poema)
Demos umas boas voltas com os Apalavrados. Lembro-me de ter saído do palco furioso, em Ermesinde, tocada a última nota na guitarra. Levantei-me e saí enquanto, provavelmente, ele apontava para o lado e dizia "à minha esquerda, o André Gue...". Profissionalismo. O Joaquim gostou muito dessa noite. O Jonesy estava lá e não me deixa mentir, e terá sido dos poucos a aperceberem-se de que toda a trupe estava perdidamente bêbada. O Jonesy, se bem me lembro, não gostou. A minha mãe e o meu irmão gostaram muito, principalmente do Joaquim.
Os jantares em casa da Graça e do Joaquim. Uma hora antes de pousarem a travessa na mesa, íamos dar uma volta pelas mesmas ruas que eram só dele antes do nascer do sol, que a insónia não perdoava. Levantava-se e andava às 4.30, 5h. E outra vez depois de o sol nascer; a Jorginha via-o quase todos os dias quando o caminho para a escola passava por ali.
Ligou-me uma manhã- eu: que bela manhã, que calor, bom dia Joaquim - o meu filho morreu. O teu filho, Joaquim, que filho. Tinha um filho. Cheia de noite negra, negra, a casa da Graça e do Joaquim por esses tempos.
Depois fizemos a escolha dos poemas para o "Só Cá Vim Ver O Sol".
Depois, durante algum 'depois', estivemos longe. Depois, há uns dois meses, entrou no Zé Bota (eu sabia que havia de lá entrar). Daniel Maia-Pinto Rodrigues, João Habitualmente, Isaque Ferreira, Joaquim Castro Caldas. Emprestei o meu telemóvel ao Maia-Pinto para falar com o Rui Lage (olá, meu), pegou no aparelho como quem segura uma bomba por desactivar, e o Joaquim fartou-se de rir.
Saímos do restaurante por portas diferentes sem nos termos despedido. Assim, amigo Joaquim, fico a lembrar aquele teu riso. Tu sempre adoraste telemóveis, gajos tímidos e generosos e outras matérias explosivas.
Há uns meses, o Pinguim lembrou-se de ti e fez-te homenagem. Fez bem, muito bem. Aquilo és tu e espero que a cave seja baptizada 'Sala Joaquim Castro Caldas'.
Agora és bem capaz de já ser um anjo resmungão a dar cascudos em pinguins desajeitados que usurpam o palco que é completamente teu.


andré guerra, durtal, com saudade do Joaquim.

3 comentários:

jonesy disse...

Não sabia. Fui apanhado desprevenido. Conhecia-o, quer dizer, nem sei se o conhecia, já falamos, não falamos, por aí. Mas já tinha estado muitas vezes ao pé dele, em actuações, conversas, por aí.

Mas não sabia, soube por aqui e custou-me. Sim, claro, as noites do pinguim. Agora não me apetece largar para aí muitas palavras sobre essas noites, é do homem que me lembro. E era por ele que lá ía, e até tentava arrastar pessoal, essencialmente por ele, pois era grande. Nem sempre, mas que se há-de fazer? Às vezes era a pain in the ass, mas eu gostava dele.

Essa noite de ermesinde foi engraçada, os meus olhos - mais normalizados com o passar dos anos - é que não estavam preparados para aquelas loucuras - o que eu riria e curtiria com elas antes!... Até me entristeceu ler que eu não gostei muito, sei lá se gostei. Agora não importa.

Mas gostava dele.

Aliás, nessa noite ele sentou-se no palco e disse um qualquer poema da Sophia, e depois ao tentar levantar-se... Não conseguiu, então disfarçou com uma espécie de cambalhota de lado, eh eh, grande psotal, grande castiço!

Bem, um abraço, Joaquim, fica bem, aquele sorriso para ti.
Um abraço, André, e olha, obrigado pela posta. Apesar de tudo soube-me bem lê-la.

João Lopes

Anónimo disse...

estou de ferias numa tranquila grecia e tu mandas-me esta noticia. a' dois dias quanda a li, por tuas maos q cada vez vez q me dito me vem a mente aqueles momentos no piolho sempre com o paulo e outras amigos da ma vida, e ele, o castro caldas como o conhecia, a contar aventuras em paris. e as noites do pinguim em q ary do santos ganhava outra vida, q na minha leitura na minha leitura nunca teve. gostava de acreditar em algo mais, em poemas rebeldes no qualquer ceu, mas nao! para mim como para ele tudo acabava aqui. vou ter saudades..
agilulfo

Anónimo disse...

Belo texto, André. Aliás, Gue.