quinta-feira, março 01, 2007

Orgulhosos, sensatos, equilibrados.


Somos orgulhosos como o caraças. Conhecemos a Grande História de Portugal de fio a pavio, de Viriato a Cavaco. Temos três livros de cabeceira: a Bíblia, Os Lusíadas e o Código Da Vinci. Adoramos os vários Pessoas e a Mensagem que um deles transportava, já não nos lembramos de qual deles é que era. Adoramos os nossos homens de letras, de ciências, das políticas, das circum-navegações, adoramos os reis que os tinham no sítio na época certa e as rainhas milagreiras. Adoramos dois nobelizados: um que inventou uma amável técnica de pacificação que Deus nos livre e outro que quem nunca leu insiste em dizer que não pontua as frases (de uma vez por todas: não é a pontuação que falta, é o discurso directo, e faz muito bem!!). Somos saudosistas e ainda temos cá uma coisa com os pretos. A descolonização ainda dói muito e, infelizmente, o Soares ainda é vivo. Adorámos a Expo'98, mas, passados 9 anos completamente passados, ainda se ressaca por aqui. Adoramos a selecção de futebol, que tantas meias-alegrias nos dá. Esquecemo-nos facilmente de gajos destes, mas o Cesariny era o maior, quando morreu é que nos lembrámos que ainda ontem estava vivo. O O'Neill, anda a falar-se muito dele, temos de ir à FNAC ver o que há. Talvez também haja um best of à venda no Continente, sempre dá pontos para as próximas compras. Compra-se a biografia, já se fica a conhecer. Isto, entre muitas outras coisas, é o que adoramos. Até somos felizesinhos.
Eis o que detestamos: Sócrates, Plutão (ainda bem que foi despromovido) e Eristoff (esta, não percebo bem porquê). Andam todos fartos do autoritarismo e secretismo e "destrutivismo" do Sócrates, e confiam na bonomia, humanismo, construtivismo e ampla percepção social do Presidente Aníbal Cavaco. Está bem, está. Provavelmente, o homem só lhes vai fazer a vontade quando puser problemas à lei do aborto. Olhamos muito lá para trás com os olhos húmidos de saudade (segundo o Público, a 7ª palavra de mais difícil tradução no mundo - mais um motivo de orgulho). Detestamos os contemporâneos, apesar de, pelos vistos, devermos idolatrar os conterrâneos. Desconfiamos, desconfiamos sempre. As dívidas ao fisco chegam a 13 mil milhões de euros. A "economia subterrânea" neste rectângulo de cerca de 800 km, num ano, anulava o famoso défice.
Mas... "o país deve ser apoiado mesmo quando toma decisões erradas"! Brilhante! O português que responde a inquéritos mostra aqui toda a sua raça. E outras características que não vale a pena comentar. Como quando responde que todo o português é mau condutor, excepto ele; ou que todo o português não liga puto à pontualidade, excepto ele. Ou que todo o português é preguiçoso e incompetente e burocrata, excepto ele. Mas, como ele, todo o português é excepcional e clarividente, porque o país deve ser apoiado mesmo quando toma decisões erradas. Quando elege um Sócrates, quando escolhe um Scolari, quando queima nomes em processos de pedofilia, quando arranja falcatruas para eleger Salazar o maior português de sempre e Soares o pior. O problema mesmo é termos um apelido que começa por S. Se não tivermos, tudo bem.
Dentro deste universo de nacionalistas, deve ser difícil encontrar um patriota.

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