segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Ainda faltou um danoninho, mas...

...votou-se com vontade, contra ventos e chuvas que pareciam marés vivas. Votou-se mais, demo-nos mais ao trabalho. Ganhou o "sim", e tenho cá para mim que nem o "não" perdeu. O "não" papista, ameaçador, excomungador, que põe à socapa fotografias de embriões mortos nas mochilas de crianças de infantários, perdeu. Existe um outro "não", claro. Tão convicto como o "sim", e tão respeitável. Que tem toda a razão quando exige que se faça uma lei equilibrada. Para quem existe mesmo, mesmo uma vida desde a concepção. E desde antes do jantar a dois.Mas, para já, para já, vê-se reconhecido o direito a, num prazo razoável, decidir. Vê-se o fim da obrigação jurídica de procriar por culpa de material defeituoso, interacções medicamentosas, deficiente aptidão matemática para contar os dias, simples entusiasmo ou completa paixão. Uma lei que obrigava a ter filhos. Que ignorava o maior direito que qualquer conjunto de células, embrião ou feto pode ter: o direito a ter pais conscientes e orgulhosos e babados. E acaba a lei que dava voz a uma religiosidade desgraçadinha, miserável. Acho que foi o que esteve sempre em disputa. Ganhou um certo humanismo desconhecido de um certo "não". O "não" que esconde, que financia, que instiga pequenas viagens ao estrangeiro. O "não" que passou a vida fértil calado e agora, seco, fartou-se de berrar.

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