Vi a coisa acontecer duas vezes à minha frente, hoje: aquele momento engraçadíssimo em que uma criança corre desenfreadinha, sozinha e sem precisar de ninguém para a brincadeira, pensava ela, e vê outra criaturinha com dois anos a menos ou a mais, e pára. Há ali um radar, o outro pimpolho até estava a dormir, ou a sonhar, que são coisas diferentes, e abre os olhos. Até aí ainda não tinham conversado, e sabemos que ainda não sabem como se conversa, mas concordam: vamos brincar.
Os pais olham para aquilo com olhos pequeninos, feios, sonâmbulos, dão ordens, deixá-lo estar,
que é muito pequenino, daqui a uns tempos já não deixo que brinque e se misture, já há-de saber comportar-se.
Era merecido um bem-humorado feitiço que virasse do avesso os adultos na rua. Corriam ou caminhavam felizes por aí até descobrirem outro adulto com mais ou menos a mesma idade, sorriam quando o encontravam, babavam-se, convidavam-no para correr e derrapar nas mesmas rampas tipo ribanceiras, e diriam uma infinidade de baboseiras que as crianças, perdidas de riso, não censuravam, por lhes acharem graça e importância.
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